Republicanos suspende filiação de sindicalista investigado por fraudes bilionárias no INSS

Brasília, 11 de novembro de 2025 – O Partido Republicanos anunciou nesta terça-feira a suspensão imediata da filiação de Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), investigado por supostas fraudes contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no âmbito da Operação Sem Desconto. A decisão, aprovada pelo Conselho de Ética e Disciplina da legenda, atende a um pedido da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), formulado durante depoimento do sindicalista à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, no último dia 3.

Em nota oficial divulgada pelo partido, a medida é descrita como uma resposta firme às investigações em curso, conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU). “O Republicanos repudia veementemente qualquer prática de corrupção ou fraude, especialmente aquelas que afetam a população mais vulnerável, como idosos e aposentados. Apoiamos integralmente as apurações e reafirmamos nosso compromisso inabalável com a ética e a legalidade”, afirma o texto, assinado pela executiva nacional.

Abraão Lincoln, com forte influência em estados do Nordeste, já comandou a executiva do Republicanos no Rio Grande do Norte e foi candidato a deputado federal pela sigla em 2018. Sua entidade, a CBPA, é uma das principais investigadas no escândalo que veio à tona em dezembro de 2023, revelado por reportagens do Metrópoles. De acordo com a CGU, a confederação não possui funcionários registrados, mas acumulou 445 mil filiados em 2024, gerando um faturamento de R$ 41,2 milhões naquele ano – totalizando R$ 221 milhões nos últimos anos. Esses recursos provêm de descontos indevidos em benefícios previdenciários, sem autorização dos aposentados e pensionistas afetados.

O depoimento que acelerou a punição

Durante a oitiva na CPMI do INSS, no dia 3 de novembro, Abraão Lincoln optou pelo silêncio em diversos momentos, amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Questionado pelo relator, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), sobre as discrepâncias nos dados financeiros da CBPA e possíveis “inverdades e contradições” em seu depoimento, o sindicalista invocou o direito de não autoincriminação. A senadora Damares Alves, presente à sessão, cobrou na hora a expulsão imediata do filiado, argumentando que a permanência dele no partido mancharia a imagem da legenda.

“Não podemos tolerar que um investigado por fraudes bilionárias continue ostentando nossa bandeira. O Republicanos é um partido de valores cristãos e defesa da família brasileira, e isso inclui proteger os aposentados de esquemas como esse”, declarou Damares em entrevista ao Diário do Poder após a aprovação da suspensão.

Contexto do escândalo: um rombo de R$ 6,3 bilhões

O caso do INSS, batizado de “Farra dos Aposentados”, envolve um esquema de descontos fraudulentos em folhas de pagamento de benefícios previdenciários, estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Pelo menos 11 entidades associativas e sindicatos, incluindo a CBPA, são suspeitas de incluir aposentados em suas listas sem consentimento, utilizando associações de fachada para captar recursos. Muitos beneficiários sequer conheciam as instituições responsáveis pelas cobranças, que prometiam serviços médicos e de lazer em troca da filiação – mas entregavam pouco ou nada.

A investigação, deflagrada pela PF e CGU em abril de 2025, já resultou na demissão de figuras como o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto e o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, sob pressão do Palácio do Planalto. Indícios de propina a parlamentares e assessores, em valores que chegariam a R$ 50 mil mensais – um suposto “mensalão do INSS” –, podem elevar o caso ao STF, conforme apurado pela Gazeta do Povo. Nomes de siglas como PT, PL e PDT surgiram em informações preliminares, embora sem acusações formais.

A oposição, liderada por deputados como Luciano Zucco (PL-RS) e Nikolas Ferreira (PL-MG), pressiona pela instalação de uma CPI exclusiva, mas o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), resiste, citando a existência de outras comissões em fila. Paralelamente, o irmão do presidente Lula, José Ferreira da Silva (Frei Chico), vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi) – outra entidade citada –, obteve liminares judiciais para remover publicações que o associam ao esquema, negando qualquer envolvimento direto.

Repercussões políticas e impacto social

A suspensão de Abraão Lincoln reforça a estratégia do Republicanos de se distanciar do escândalo, em meio a um ano eleitoral tenso. A legenda, que tem crescido no Congresso com pautas conservadoras, busca preservar sua imagem de “partido da família” e da defesa dos vulneráveis. Analistas políticos veem a medida como um aceno à base evangélica e uma forma de blindar aliados como Damares Alves, cotada para cargos no governo ou disputas futuras.

Do ponto de vista social, o rombo afeta diretamente milhões de aposentados, muitos em situação de fragilidade financeira. A PF estima que os descontos indevidos atingiram benefícios sem verificação rigorosa de autorizações, com indícios de falsificação de documentos. O governo Lula, por sua vez, atribui parte do problema à gestão anterior (Bolsonaro), mas admite falhas na diretoria do INSS a partir de 2023.

O caso segue sob investigação da CPMI, que avalia até pedidos de prisão por falso testemunho. Enquanto isso, entidades como a CUT e a Força Sindical defendem o sindicalismo legítimo, repudiando o uso político do escândalo para atacar o movimento. “É uma narrativa contra o governo e o trabalho sindical honesto”, afirmam em nota conjunta.

O Republicanos informou que a suspensão é provisória e pode evoluir para expulsão definitiva, dependendo do andamento das apurações judiciais. Abraão Lincoln não se pronunciou até o momento sobre a decisão.